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Considerações críticas sobre o Neomalthusianismo contemporâneo

 [1] José Romero Araújo Cardoso

[2] Marcela Ferreira Lopes
 
Thomas Robert Malthus  (Rookery, perto de Guildford14 de fevereiro de 1766 — Bath23 de dezembro de 1834) foi considerado o pai da demografia, devido seus estudos pioneiros sobre população.
No final do século XVIII publicou o primeiro ensaio sobre população, realçado em 1803 com nova edição que corroborou as teses iniciais, as quais se detiveram sobre diversos aspectos da realidade do Velho Mundo, combatendo os utópicos e dando ênfase às suas pregações que incluíam previsões apocalípticas sintetizadas em máxima que a população tenderia a crescer em progressão geométrica, enquanto a oferta de alimentos estaria disponível em progressão aritmética.
O rígido controle sobre os salários, sobre o celibato, tendo em vista que Malthus era Pastor da Igreja Anglicana, bem como sobre qualquer medida que pudesse significar melhoria da qualidade de vida proletária, personificaram os pontos de vista que estão contidos em Ensaios Sobre População.
Acolhida com pompas pelos governos europeus, a teoria de Malthus foi posta em prática ipsis literis até quando as trombetas do inconformismo rugiram céleres, inspiradas inicialmente pelos anarquistas, depois pela proposta do materialismo histórico e dialético.
A democratização das conquistas do industrialismo foi a saída encontrada para manter o status quo, pela burguesia e pelos Estados Nacionais através de políticas públicas, temerosos com o avanço de ideias revolucionárias.
Em julho de 1944, quando ainda grassava forte e arrebatadora a segunda grande guerra, foram definidas em Bretton Woods (EUA) as regras para as relações comerciais e financeiras entre os países mais industrializados do mundo. A mudança do padrão ouro para o padrão dólar e a ênfase à expansão de empresas transnacionais para espaços selecionados do terceiro mundo foram decisões ratificadas nas convenções realizadas nos Estados Unidos. O surgimento da geografia teorética-quantitativa está intimamente relacionado com as decisões implementadas, visando reconstruir o capitalismo e evitar novo colapso igual ao verificado em setembro de 1929, quando da quebra da Bolsa de valores de Nova York.
A comoção advinda com os horrores do maior conflito da história da humanidade até o presente momento ensejou a atuação de organismos internacionais, a maioria não governamental, atendendo populações desvalidas, a mercê da própria sorte, nos mais distantes lugares do planeta, em grande parte localizadas em países terceiro mundistas.
Vacinas passaram a se responsabilizar pelo controle da incrível taxa de mortalidade verificada entre essas populações desditadas por doenças infectocontagiosas há muito tempo controladas no primeiro mundo.
Em contrapartida, não houve redução na taxa de natalidade, continuando esse indicador demográfico bastante exponencial, pois, ao contrário dos países ricos que controlaram naturalmente o número de nascidos vivos, não houve melhoria das condições de vida da população terceiro mundista.
A explosão demográfica do terceiro mundo se cristalizava de forma preocupante para as decisões contidas no acordo de Bretton Woods, sobretudo no que tange à ousada decisão de instigar a migração do capital industrial, antes circunscrito ao primeiro mundo, para a periferia.
As previsões apocalípticas defendidas por Malthus ressurgiram de forma extraordinária, apenas adaptando-se a uma leitura da situação populacional verificada nos países subdesenvolvidos.
Apregoaram ideologicamente, negando a análise histórico-geográfica, que o subdesenvolvimento dos países do terceiro mundo devia-se ao alarmante número de pessoas que os censos demográficos apresentavam.
Governos de países hegemônicos e grandes empresas, como a Ford, começaram a se preocupar com a necessidade de dar ênfase ao controle de natalidade no terceiro mundo, como forma de que a célebre máxima malthusiana que a população tende a crescer em progressão geométrica, enquanto a oferta de alimento em progressão aritmética, não pudesse tomar proporções indefinidas.
Entidades como a BemFam (Bem Estar da Família) começaram a se engajar na efetivação do controle de natalidade, escolhendo estrategicamente determinados pontos vitais, os quais, pelas características demográficas revelam o real interesse contido na política antinatalista adotada a fim de salvaguardar a periferia de uma iminente explosão demográfica.
Áreas anecumenas, como a Amazônia, passaram a ser alvos da campanha de controle de natalidade enfatizada pelos países ricos, traduzindo a verdadeira dimensão da histeria coletiva de cunho demográfico que passou a integrar as preocupações dos privilegiados do planeta.
Robert Strange McNamara (São Francisco, 9 de junho de 1916  Washington, D.C., 6 de julho de 2009) sintetizou com invulgar perfeição o verdadeiro interesse do controle demográfico para o terceiro mundo, pois dizia ser mais econômico impedir o nascimento de um futuro guerrilheiro vietnamita do que caçá-lo nas selvas do Mekong.
Organismos financeiros internacionais passaram a incluir uma efetiva política de controle demográfico em suas exigências de empréstimo aos países subdesenvolvidos, pois era a garantia que os interesses dos países ricos fossem validados.
A pressão demográfica através da formação de um superexército industrial de reserva não interessaria ao processo maximização de lucros-minimização de custos caso a explosão demográfica continuasse a assustar os empreendimentos transnacionais localizados em áreas específicas e bem selecionadas do terceiro mundo.
Reeditadas em pleno contexto pós-segunda grande guerra, as teorias de Malthus foram reedificadas a fim de cumprir objetivos que sempre as nortearam, quer seja, disponibilizar retórica ilustrada afim de convencer que as distorções não são frutos das diferenças e sim da teimosia de um povo em se deixar levar pela tentação de ter filhos que incomodam um sistema assentado na crueldade das relações sociais.

[1] José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-Adjunto IV do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial (UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UERN).

[2] Marcela Ferreira Lopes. Geógrafa-UFCG/CFP. Especialista em Educação de Jovens e Adultos com ênfase em Economia Solidária-UFCG/CCJS. Graduanda em Pedagogia-UFCG/CFP. Membro do grupo de pesquisa (FORPECS) na mesma instituição.

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