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Saiba como é a vida dos pesquisadores no Atol das Rocas

Fred CarvalhoDo G1,
 no Atol das Rocas (RN) -
 o repórter viajou a convite do Ministério do Meio Ambiente
Pôr do sol no Atol das Rocas é uma das principais atrações do local (Foto: Fred Carvalho/G1)
O cenário é paradisíaco, de cinema: sol na maior parte dos dias, areia branca, mar de águas mornas e cristalinas, ventos constantes e, principalmente, harmonia total com os animais. Isso tudo faz qualquer pessoa desejar passar temporadas no Atol das Rocas, no Rio Grande do Norte. Mas esse paraíso só pode ser usufruído por poucas e selecionadas pessoas: cientistas que pesquisam a vida marinha na costa e nas ilhas oceânicas brasileiras.

Ao mesmo tempo que é convidativo, o Atol é inóspito. Os mais de 5 quilômetros quadrados existentes na maré seca, em poucas horas, quando a maré enche, resumem-se a apenas duas pequenas ilhas. E o pior: não há fontes de água potável.

Por esse motivo, o acesso à reserva biológica, que é administrada pelo Ministério do Meio Ambiente, é restrito e controlado. Somente pesquisadores vinculados a alguma universidade e centros de pesquisa podem realizar estudos sobre a vida marinha no local.

Até o início da década de 1980, pesquisadores ficavam em barracas no Atol das Rocas (Foto: Maurizélia Brito/G1)
Até o início da década de 1980, pesquisadores ficavam em barracas no Atol (Foto: Maurizélia Brito/Arquivo Pessoal)


Maurizélia Brito está na reserva há 24 anos e é chefe do Atol há 20 anos Ela conta que antigamente os pesquisadores enfrentavam mais dificuldades. "Quando comecei a trabalhar no Atol, havia apenas barracas destinadas aos pesquisadores e a comunicação com o continente era feita apenas via rádio. Já cheguei a passar 72 dias seguidos aqui no Atol com um colaborador porque não havia ninguém que nos substituísse."

As antigas barracas foram substituídas em 1994 por uma casa pequena. Em 2008, através de uma parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica, foi erguida uma casa de madeira na ilha do Farol, a única com construções feitas por homens no Atol. Essa casa é dividida em duas partes: uma é destinada a armazenar equipamentos dos pesquisadores; outra é onde ficam os três alojamentos, uma copa e uma pequena cozinha.
Pesquisadores lavam louça com areia e água do mar no Atol das Rocas (Foto: Fred Carvalho/G1)Pesquisadores lavam louça com areia e água do mar no Atol das Rocas (Foto: Fred Carvalho/G1)


Não há pias ou sanitários na casa. "Para lavar a louça, primeiro esfregamos a areia do Atol nos copos, pratos, talheres e panelas e, em seguida, enxaguamos com a água do mar. Para escovar os dentes, pegamos um pouco de água potável apenas para limpar a boca. E temos dois 'banheiros' no Atol, que ficam nas extremidades da ilha do Farol. Para ter privacidade, o pesquisador avisa aos demais que vai ao 'banheiro', que nada mais é que a própria praia", explicou Maurizélia.

A casa também tem energia, que é gerada por uma placa solar. Essa energia é usada para manter ligadas duas geladeiras repletas de mantimentos, para possibilitar que haja luzes na casa e ainda para carregar notebooks e celulares dos pesquisadores. Não há televisão no Atol. "Hoje a comunicação é facilitada pela internet, que fica disponível 24 horas para os cientistas. Eles passam os 20 ou 30 dias das expedições longe de casa, mas pelo menos têm contato diariamente com familiares e amigos."

Os cuidados para evitar acidentes também são constantes. "Não há helicópteros com autonomia de combustível para fazer um resgate aqui no Atol. Qualquer resgate médico só é possível ser feito 24 horas após. Por isso sempre tem uma pessoa da minha confiança e conhecedora dos riscos e limites do Atol para que tudo aconteça a contento", afirma a chefe da reserva.

"Em nome da ciência"
Há um hábito comum entre os pesquisadores, que é passado de um para o outro na troca de pessoal. Sempre que encontram alguma dificuldade ou adversidade, falam "Tudo em nome da ciência". A frase é repetida na hora de lavar louça, quando se carrega equipamentos pesados sob sol forte, e quando, com o mínimo de privacidade, se vai ao 'banheiro'.
Pesquisadora examina tartaruga-verde que havia acabado de desovar no Atol das Rocas (Foto: Paula Baldassin/G1)Talytha Rocha já foi três vezes fazer pesquisas científicas no Atol das Rocas (Foto: Paula Baldassin/Arquivo Pessoal)


"Sou casada e essa é a terceira vez que venho ao Atol das Rocas, sempre passando mais de 30 dias. Meu marido apoia porque sabe que essa experiência será importante para o meu currículo. Nos falamos todos os dias e isso ajuda a diminuir um pouco a saudade", falou a bióloga Talytha Rocha.

A ecóloga Luciana Filippos mora em São Paulo e não trabalha na área em que se formou. Mas para realizar o sonho de participar da pesquisa sobre as tartarugas-verdes no Atol, aproveitou os 30 dias de férias da empresa de soluções energéticas em que trabalha. "Tinha essa vontade de ajudar em uma pesquisa e de conhecer o Atol. Procurei a pesquisadora que chefia esse estudo, fui inserida na licença de pesquisa e pude vir trabalhar voluntariamente nas minhas férias."

Brasiliense de nascimento e atualmente morando em Fortaleza, o biólogo Carlos Meirelles é um veterano no local. "Essa é a oitava vez que venho ao Atol. São muitos dias longe de casa para poder fazer estudos para a minha pós-graduação em engenharia de pesca. No final, como quem vem aqui tem o mesmo propósito de preservar a natureza, acabamos nos integrando e formando uma grande família, onde todos se ajudam."
Atol da Rocas - Infográfico (Foto: Editoria de Arte/G1RN)

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