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A vida e a obra do sagrado filho de Januário e Santana em cordel de Arievaldo Viana

(*) José Romero Araújo Cardoso

Luiz Gonzaga do Nascimento foi a maior expressão sonora da autêntica cultura popular nordestina, tendo legado um verdadeiro relicário musical acerca das tradições, costumes, cotidianos e outras coisas mais referentes a uma região seca cujos desafios fizeram do seu povo uma fortaleza espetacular e admirável.

Nascido a 13 de dezembro de 1912, no pé da serra do Araripe, divisa dos estados do Ceará e Pernambuco, o velho “lua”, apelido carinhoso que ganhou de Mário Lago quando de sua aceitação para labutar na saudosa Rádio Nacional, se tornou uma legenda insubstituível como resposta ao que efetivamente faz ser nordestino.

Ainda “molecote”, como ele gostava de dizer, Luiz Gonzaga teve um desentendimento com importante homem de sua terra, resultando em uma surra incomensurável de Santana, aprovada por Januário, levando-o a abandonar o seu pé de serra em direção a outras plagas.

Engajado no Exército Brasileiro, Gonzaga teve participação tímida, como corneteiro, quando da revolução desencadeada em outubro de 1930. Rumo à cidade maravilhosa, passou a tocar na zona do mangue, a fim de buscar a sobreviv6encia na então capital federal.

Desafiado por um grupo de estudantes cearenses, Luiz Gonzaga voltou a fazer o que gostava, recordando-se das quebradas do sertão. Surgia assim um dos maiores ícones da música popular nordestina, responsável pela “descoberta” por parte do restante do país, bem como pelo exterior, dos valores de um povo, da riqueza da cultura popular nordestina, denunciando o desprezo em que ainda vivem milhares de pessoas espalhadas pelos rincões adustos da terra do sol.

Luiz Gonzaga teve dois parceiros que se rivalizaram no intuito de eternizarem verdadeiras pérolas que hoje compõem o cancioneiro nordestino. Chamavam-se Humberto Teixeira, cearense de Iguatú, e José Dantas filho, pernambucano de Carnaíba de Flores.

O ostracismo e um certo repúdio permeavam os diversos olhares nacionais com relação à cultura nordestina, sendo Luiz Gonzaga o mais importante agente responsável pela ênfase a um processo de aceitação do que o nordeste produziu em trezentos anos de contínua fixação, desde quando os rastros das boiadas ocuparam os sertões mais distantes, fomentando uma identidade própria que foi gradativamente se aprimorando, sendo influenciada ao longo dos séculos por matizes de diversas vertentes culturais.

Gonzaga foi a representação da alma do sertão, a essência máxima de um povo e de uma cultura extraordinariamente rica. O velho “Lua” trouxe para a música a simplicidade e o bucolismo de um sertão que marcou a infância e a juventude do eterno cantador que nunca esqueceu sua terra, o chão sagrado do semi-árido.

Em excelente folheto publicado em terceira edição pela Editora Queima-Bucha, por título Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, o qual traz xilogravura de autoria do poeta popular João Pedro do Juazeiro, o poeta popular cearense Arievaldo Viana Lima traça um perfil ímpar do grande e eterno mestre da sanfona, cuja influência foi decisiva para que grandes e apoteóticos momentos da MPB e da cultura regional fossem concretizados.


(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor Adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial e em Organização de Arquivos. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.


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