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Padre José Chitumba Samalambo e a Fazenda da Esperança Santa Rosa



(*) José Romero Araújo Cardoso
Recordo com imensa ternura meu primeiro encontro com o Padre angolano José Chitumba Samalambo quando do meu processo de recuperação na Fazenda da Esperança Santa Rosa.
Foi na entrada da capela interna da unidade da obra social Nossa Senhora da Glória, localizada em Garanhuns (PE), que vi pela primeira vez o abnegado e sofrido sacerdote católico nascido nas plagas africanas outrora colonizadas pelos portugueses.
Não percebendo gritos ou manifestações de rebeldia, mostrando educação polida e esmerada, da qual me orgulho bastante de ser possuidor, o Padre José Chitumba me perguntou o que fazia por lá, tendo-lhe respondido estar começando processo de recuperação em virtude de inúmeras e sucessivas emboscadas do destino. O vigário parece ter gostado da minha resposta, pois daí em diante buscava a todo  instante conversar comigo, trocando idéias sobre assuntos diversos.

Certa vez, acometido de forte crise asmática, devido ao rigor do frio que fazia nas terras do agreste meridional pernambucano, fiquei totalmente impossibilitado de fazer a tradicional e costumeira nebulização matinal, pois, após a missa, irmão recuperando que coordenava a casa Santa Terezinha, onde residia, esqueceu-se de deixar a chave no escritório do prédio central da Fazenda da Esperança Santa Rosa, tendo viajado para Garanhuns a fim de resolver pendências da Fazenda a mando do presidente local.
Padre Chitumba veio ao meu encontro, pois notou meu estado de aflição por não poder entrar na residência. Ele falou que sofreu durante mais de dez anos com crises de asmas e que tudo aquilo que estava passando ele também havia passado. O controle psicológico, conforme Padre Chitumba enfatizou, era o segredo para vencer as crises de asma.
O vigário da Fazenda da Esperança Santa Rosa me convidou para trabalhar na horta naquela manhã. Mostrou-me cada planta que ele mesmo havia colocado na terra nua da Fazenda da Esperança, indicando-me o potencial vitamínico de todas elas. Eram maracujás, hortelãs, mamões, coentros, cebolinha, entre diversos outros de uso diário na cozinha da Fazenda da Esperança.
Aproveitei para estender meus conhecimentos sobre a mãe África, tendo-lhe perguntado sobre diversos fatos políticos e econômicos de Angola. Padre Chitumba confessou-me ter se emocionado quando lhe indaguei sobre a atuação em Angola da Polícia Interna de Defesa do Estado Português, a famigerada PIDE de triste memória para as populações das colônias lusitanas no continente africano.
Padre Chitumba me disse que diversos amigos dele do Seminário foram seqüestrados e levados para o campo de concentração de São Nicolau, localizado no deserto angolano, bem ao sul, fronteira com a Namíbia, onde os contrastes entre dias e noite aviltavam a dignidade humana.
Em seguida, o vigário angolano foi contando detalhes de sua desdita, principalmente no que tange ao seu envolvimento com o álcool, pois além de sacerdote da Fazenda da Esperança Santa Rosa, José Chitumba também era padrinho. Recuperou-se do drama do alcoolismo em Fazendas da Esperança localizadas no Brasil.
A inteligência e a perspicácia do Padre José Chitumba Samalambo mexeram profundamente com meu imaginário, motivos pelos quais sinto orgulho em privar de sua amizade saudável e agradável, pois enxergo nele muito da essência do sofrido povo africano, do qual tenho raízes profundas fincadas em meu código genético.

(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto da UERN.

Comentários

  1. conheci o Pe Jose Chitumba Samalambo hoje e fiquei impressionada com seus livros e atá já os encomendei. Achei-o muito tranquilo e de expressão forte como todos os profetas de Deus.

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  2. Tive o prazer de encontrar (pois não conhecia)por algums minutos em um hospital de sobral senti uma paz muito grande naquele momento.

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