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Globalização e mundo contemporâneo


 (*) José Romero Araújo Cardoso

          O ponta-pé inicial à globalização ocorreu quando da revolução marítimo-comercial, com a descoberta de novas terras além fronteiras do velho mundo, mas a dinâmica extraordinária no fomento a uma “aldeia global” teve sua gênese a partir do que ficou decidido em reunião de cúpula acontecida no ano de 1944 em Bretton Woods, subúrbio d Washington D. C. – E.U.A.
          Mudança do padrão-ouro para o padrão-dólar norte-americano e ênfase á expansão do capital industrial até então majoritariamente concentrado no primeiro mundo para espaços selecionadíssimos do terceiro mundo tornaram-0se elos importantes da nova ordem econômica global pós-segunda guerra mundial.
          Evitar outro colapso econômico-financeiro catastrófico igual ao verificado em 1929, quando da quebra da bolsa de valores de Nova York, negociadora de commodities, fundamentou as ousadas decisões referendadas pelo capitalismo implementado no mundo desenvolvido ávido por maximização de lucros e minimização de custos.

          A geografia teorético-quantitativa surgiu nessa época com a missão de equacionar o espaço, transformando-o em uma planície isotrópica com sua respectiva representação matricial a fim de garantir a consolidação dos interesses das empresas transnacionais que passaram a exercer papel fundamental na fase que foi inaugurada depois do segundo conflito global.
           O Keynesianismo evitou o recrudescimento dos efeitos da crise de 1929, sobretudo com relação aos agregados macroeconômicos, entre os quais encontrava-se a preocupação com a geração de emprego e renda em áreas deprimidas, como o Vale do Tennesse, sul dos E.U.A., mas para corroborar os interesses dos grandes empreendimentos industriais precisava-se ressuscitar a base da economia clássica Smithiana, motivo pelo qual o economista austríaco Hayek lançou os princípios do neoliberalismo.
           Em alguns países periféricos, em razão de certas impossibilidades fomentadas pelas crises cíclicas e pelo conflito mundial, havia experiências históricas ímpares, como no Brasil, na Argentina e na Turquia, movidas pela intervenção do Estado em buscar alicerçar o desenvolvimento capitalista autóctone, embora tardio.
           Alguns espaços elencados para receber filiais de rede produtivas interligadas à nova ordem econômica mundial viviam momentos de convulsão libertária, como era o caso do Vietnã, dividido em norte e sul conforme áreas de influências. Não satisfeitos com o resultado obtido com a partilha, o capital transnacional e seu suporte geopolítico, compreendido pela política externa norte-americana que ficou conhecida por Big Stick, responsabilizaram-se por um dos maiores massacres pós-segunda guerra mundial.   
            A proposta de globalização capitaneada pelos EUA teve recuos durante décadas, em boa parte do século XX, devido a forma como se comportou a guerra fria, marcada pelas disputas por áreas de influência entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética.
            Mas quando da derrocada do socialismo real no leste europeu o campo de atuação e de intervenção do capitalismo tornou-se extenso e promissor, pois a incorporação de mercados e reopção pelo antigo modelo, caso exemplificado pela reunificação da Alemanha.
           Em consonância com o aceno ao desaparecimento dos entraves que inibiam a plena atuação do capitalismo globalizado no planeta, contestado pelos valores e ótica socialistas, começam a ressoar as manifestações de antigos “aliados”, insatisfeitos com a indiferença do capital sobretudo com relação à cultura milenar que surgiu nos desertos das arábias.
           O surgimento de redes terroristas radicais calcadas no fundamentalismo islâmico culminou com atos extremamente marcantes no início do século XXI, a exemplo das explosões das torres gêmeas.
           Conflitos no oriente médio são alimentados e financiados pela globalização. A vida humana vale menos que o ouro negro que se esconde pelas profundezas cretáceas das terras sagradas do islã.
           A idéia de maximização de lucros e minimização de custos permeia o ideário das grandes empresas transnacionais, pois se nos determos na montagem de um automóvel, à guisa de exemplo, observaremos o que significa em teses menores a globalização. Peças são adquiridas nos mais remotos e distantes lugares do planeta por que apresentam preços mais acessíveis que, através das vantagens permitidas com as redes de informação, garantem o sucesso da proposta global, a qual tanto exclui como inclui, tanto define como redefine, tanto seleciona como marginaliza.
            Tendência quase inevitável na era da globalização é a tentativa de alguns países se organizarem em blocos econômicos, intuindo concorrer com a apoteótica e extraordinária performance apresentadas pelos EUA, cujo PIB trilionário demonstra bem que manda no planeta.
            A mais espetacular experiência de busca pela integração regional no planeta observa-se através da concretização da sonhada União Européia, cujo carro-chefe econômico encontra-se no domínio alemão, principal expoente econômico europeu.
            Não obstante inúmeras vantagens auferidas ao longo das décadas que marcam a proposta de integração européia, problemas vem sendo constatados no presente em razão da ineficiência econômica demonstrada por diversos países-membros.
            Previsões apocalípticas feitas há mais de sessenta anos tornam-se verdadeiras. A fome, denunciada intensamente pelo médico e geógrafo brasileiro Josué de Castro, vem invadindo o próprio primeiro mundo, berço da proposta de integração global. A desnutrição crônica deixou de ser exclusiva da periferia para integrar de forma indelével as paisagens socais em todo planeta.
            A importância do capital natural é subestimada à exaustão, pois o fundamentalismo está concentrado no consumo, conforme oportuna afirmação do geógrafo Milton Santos, único ser humano nascido abaixo do equador, até o presente momento, a ganhar o Prêmio Vautrin Lud, considerado o Nobel da Geografia.
           A natureza agredida reage violentamente, embora avisos expedidos por conceituados ambientalistas não estejam sendo atendidos enquanto condição necessária à salvaguarda do próprio gênero humano no planeta.
           A timidez ainda é constante quando o assunto diz respeito às reuniões internacionais visando dimensionar a importância da preservação ecológica. Interesses sobrepõem-se acintosamente em detrimento da melhoria da qualidade de vida da população como um todo. Biodiversidade e emissão de gases poluentes se constituíram, desde a década de noventa, no grande desafio à conscientização dos países ricos sobre assuntos ambientais.
            A produção de bens e a oferta de serviços em larguíssimas escalas estão se responsabilizando por notável avanço para a comodidade de certa parcela do gênero humano, mas a forma como a intervenção na natureza vem sendo efetivada deixa incertezas quanto ao sucesso a curto ou médio prazo dessa ousada etapa da história da humanidade.

(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto IV do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN.

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