A cultura de um povo é a maior riqueza que
pode haver na face da terra. Querer destrui-la ou truncá-la é um crime sem
perdão, por isso temos que render tributos ao grande Luiz Gonzaga por séculos
sem fim.
Liquidar com as culturas de cada povo é uma
meta da globalização, da pós-modernidade, pois como poderemos dar lucros à
Coca-Cola ou a Mc´Donald´s se insistirmos em preservamos nossos valores
culinários?
Como poderemos dar lucros às multinacionais que promovem rodeios se continuarmos cultivando nossas vaquejadas e a boa música de Luiz Gonzaga ao invés de cairmos na tentação de prestigiar breganejos que são influenciados pela cultura texana?
Como poderemos dar lucros às multinacionais que promovem rodeios se continuarmos cultivando nossas vaquejadas e a boa música de Luiz Gonzaga ao invés de cairmos na tentação de prestigiar breganejos que são influenciados pela cultura texana?
Luiz Gonzaga conseguiu tocar fundo o coração
do matuto, pois falou de perto com seu povo, cantando e enaltecendo seu
dia-a-dia. Em um tempo em que os assuntos ecológicos ainda não estavam tão em
voga ele e Humberto Teixeira denunciaram a perversidade que faziam com o assum
preto.
Luiz Gonzaga vai ser sempre a síntese das
aspirações sertanejas, até o momento que a “lógica” do capital não inserir de
forma proeminente a região semiárida no circuito sofisticado da seletividade
espacial.
Ouvir as músicas de Luiz Gonzaga é o mesmo
que se imaginar balançando em uma rede tendo ao lado um candeeiro feito de
folha de flandres iluminando o retrato do Padim Ciço, o Santo do sertão.
As canções que gravou tiveram como parceiros
verdadeiros gênios que imortalizaram as práticas culturais de um povo. Sem Luiz
Gonzaga, estaríamos fadados a uma ênfase maior ao esquecimento de nossas raízes
e tradições.
A simplicidade do “rei do baião” era tão
destacada que certa vez, quando do histórico encontro com Zé Dantas de Sousa
Filho em um hotel em Olinda (PE), depois que o sertanejo de Carnaíba de Flores
apresentou-lhe algumas composições que se tornaram clássicas em suas
interpretações, fez a louvação ao novo parceiro com as pompas da tradição
sertaneja, dizendo-lhe que ele, Zé Dantas, quando adentrou o quarto do hotel no
qual se hospedara, que o filho do “Coronel” Zeca tinha cheiro de bode pai de
chiqueiro. O que poderia parecer uma ofensa foi na verdade um elogio à
altura do magistral linguajar matuto.
Luiz Gonzaga falava a língua do seu povo,
sabia como se comunicar com a massa ávida em desfrutar de sua extraordinária
arte inspirada nos carrascais do nordeste castigado pelas secas inclementes,
pelas pegadas dos beatos e cangaceiros, pela aflição dos retirantes e pelo
temor de que a modernidade pudesse macular a originalidade de uma raça forte.
Luiz Gonzaga tinha o cheiro do chão do
nordeste molhado pelas chuvas que põe fim às secas, tinha cheiro de mato verde,
de noites de lua cheia clareando a estrada de Canindé e o caminho que leva à
Meca sagrada do sertanejo no sul cearense.
Luiz Gonzaga é e será sempre eterno, pois
nenhum movimento revisionista de nossa cultura conseguirá apagar a contribuição
fantástica que o saudoso matuto do riacho da Brígida promoveu a fim de
imortalizar a alma de um povo em todos os quadrantes de suas manifestações do
cotidiano.
Adorei, uma abordagem bem atual e crítica...
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