Erros da Dilma
Independentemente do campeonato entre os dias 13 e 15 para saber se houve mais manifestantes a favor ou contra o governo, é óbvio que há grande, e previsível, descontentamento com o atual governo, e com todos os políticos e seus partidos, e que não vamos superar a situação se não entendermos os erros que foram cometidos pelo atual governo, no mandato anterior.
Era claro que o excesso de renúncias fiscais, no montante de aproximadamente R$ 681 bilhões em quatro anos, terminaria pressionando as contas públicas. Foi um erro também forçar o Banco Central a reduzir a taxa de juros em momento em que já havia descontrole das expectativas inflacionárias. O uso do antigo e falido sistema de controle de preços como forma de controlar inflação, usado sobre os combustíveis, foi erro que está cobrando elevado preço. As propinas desmoralizaram a Petrobras, mas foi sob a gestão dos últimos anos que comprometeu a solidez da companhia. Foi erro comprometer a capacidade de financiamento da empresa além do responsável, para servir ao marketing montado sobre o pré-sal. A presidente errou ao não cuidar com rigor das contas e das ações da petrolífera. Tanto o controle dos preços quanto a corrupção só ocorreram por causa do erro do aparelhamento de órgãos públicos, escolhendo dirigentes muito mais pela vinculação partidária e para servir ao partido, do que pela competência para gerenciar as instituições.
Outro erro foi ter baixado a tarifa da eletricidade sabendo que elevado preço teria de ser pago logo depois, seja pela falência do setor, seja pela necessidade de reajustes.
No lugar de incentivar a poupança, o governo errou ao preferir cometer o erro de induzir em excesso o crédito ao consumo, que passa a ilusão de crescimento momentâneo, sacrificando o futuro. A gestão dos projetos dos PACs foi um erro, responsável em parte pelo baixo desempenho do PIB por causa da degradada infraestrutura.
Foi erro transferir cerca de R$ 473 bilhões (estoque em dez/2014) para o BNDES financiar empreendimentos a juros subsidiados, muitos desses projetos sem o impacto desejado na economia e praticamente nenhuma contribuição ao desenvolvimento científico e tecnológico. Também errou ao ficar prisioneira do Mercosul, sem buscar formar novos parceiros comerciais no mundo.
Como forma de corrigir as consequências dos erros, a presidente Dilma preferiu cometer mais um grave erro ao usar sucessivos pacotes, criando desconfiança e instabilidade no funcionamento da economia, e desorientando os tomadores de decisões de investimento. No lugar de reorientar a política e econômica, o ministro Mantega, preferiu medidas improvisadas que aumentaram a desconfiança dos agentes econômicos.
Foi um erro ter recusado os alertas feitos ao longo de anos. A arrogância provocou erros que poderiam ter sido evitados e corrigidos. A condução da campanha eleitoral baseada em mentiras marqueteiras foi grave erro. O marqueteiro da candidata é o maior responsável pelo desastre da presidente. Errou ao não prever o custo da substituição do falso discurso de marketing para o realismo do discurso do ajuste econômico.
Este erro não teria acontecido sem o erro de desprezar as críticas e os alertas, e sem o erro de confiar cegamento em marqueteiros descomprometidos com a Nação e o futuro, querendo apenas vender o produto eleitoral.
Ao lado desses, são fundamentais os erros nas relações políticas, preferindo alianças que dominavam o parlamento em troca de benefícios, no lugar de conviver democraticamente com parlamentares sérios, mesmo que altivos nas posições. Deixar de reconhecer as vantagens destas relações não subservientes foi um dos erros que não só levou aos problemas, como também criou as dificuldades para enfrentá-los daqui para a frente.
Senador Cristovam Buarque
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